POLICY BRIEF
O avanço das moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDCs) tem impulsionado uma reconfiguração em escala global dos sistemas de pagamento e das relações monetárias internacionais. Em um contexto marcado por inovações tecnológicas e disputas geopolíticas crescentes, o professor Bruno De Conti, do Instituto de Economia da Unicamp, analisa as implicações dessa transformação no policy brief “Central Bank Digital Currencies and the Evolving International Payment System”, publicado pelo Intergovernmental Group of Twenty-Four (G-24).
Na publicação o autor examina os principais desafios e escolhas envolvidos no desenho das CBDCs e sua integração aos sistemas de pagamento internacionais, com foco nas implicações para os países do Sul Global. O documento destaca três dimensões decisivas: a infraestrutura tecnológica que sustenta as moedas digitais, o marco regulatório que guiará sua operação e o controle sobre os fluxos de dados gerados pelas transações.
De Conti argumenta que, para que as CBDCs sejam instrumentos de fortalecimento da soberania monetária, é fundamental que os países detenham autonomia sobre os servidores e softwares que compõem a espinha dorsal desses sistemas. A adoção de soluções desenvolvidas por grandes empresas privadas, sobretudo estrangeiras, pode gerar dependência tecnológica e comprometer a segurança dos dados financeiros nacionais.
No plano regulatório, o estudo aponta a influência dos bancos comerciais nas decisões sobre os limites e usos das CBDCs, incluindo o acesso por não residentes, a aplicação de juros e a intermediação obrigatória por instituições autorizadas. O autor também discute o potencial das CBDCs para ampliarem o uso de contratos inteligentes e políticas públicas direcionadas — como transferências condicionadas ao consumo de bens específicos — ao mesmo tempo em que alerta para os riscos de transformações profundas nas propriedades do dinheiro.
Por fim, o texto aborda a disputa em torno do controle dos dados gerados pelos novos sistemas. De Conti defende que esses fluxos de informação, resguardados por padrões de privacidade, podem constituir um bem público global, útil para políticas econômicas coordenadas e mecanismos multilaterais. Para isso, recomenda a atuação ativa de países do Sul Global na definição das regras internacionais.
Acesse a íntegra do documento em: https://g24.org/wp-content/uploads/2025/05/G-24-Policy-Brief-No.-82.pdf