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SCHOLARLY BOOK

 

No universo das ciências sociais aplicadas, poucos conceitos instigam tanto o debate contemporâneo quanto a ideia de complexidade. Em meio a essa constelação teórica, o recém-lançado Handbook on Institutions and Complexity, organizado por Eric Alston, Lee J. Alston e Bernardo Mueller, oferece uma cartografia precisa das intersecções entre teoria da complexidade e análise institucional. Ao longo de suas páginas, o livro reúne 17 capítulos que transitam entre reflexões teóricas e aplicações práticas, lançando luz sobre temas que vão de sistemas de crenças a governança de florestas, de políticas industriais a modelos híbridos de instituições.

 

A obra inicia com uma visão panorâmica sobre a complexidade e seu entrelaçamento com as instituições, apresentada no capítulo de abertura de Eric Alston, Lee J. Alston e Bernardo Mueller. Bernardo Mueller aprofunda o tema em uma análise sobre regras e regularidades em sistemas complexos. Já John B. Davis e Mauro Boianovsky revisitam o legado de Douglass North e da nova economia institucional a partir da complexidade, enquanto Meg Tuszynski e Richard E. Wagner reinterpretam Jane Jacobs em diálogo com a teoria dos sistemas.

 

O capítulo de José Maria F.J. da Silveira, professor do Instituto de Economia da Unicamp, escrito em parceria com Miguel Vazquez e Gustavo Andreão, Institutional dynamics in an economy seen as a complex adaptive system, ocupa lugar de destaque na primeira parte da obra. Nele, o trio propõe um quadro lógico para descrever economias como sistemas adaptativos complexos, nos quais a incerteza é vista como consequência das características fundamentais do sistema, e não como uma hipótese externa. O texto caracteriza a adaptação a partir das propriedades intrínsecas desses sistemas, situando as instituições como mecanismos que viabilizam a adaptação econômica e social. Essa abordagem dialoga com o legado de Douglass North e Elinor Ostrom, ampliando-o com conceitos como emergência e modularidade, tão caros à teoria da complexidade.

 

Além dessa contribuição, o livro avança para diálogos com temas históricos, como a análise de Lee J. Alston sobre crenças e normas em sistemas complexos, ou a reflexão de Jared Rubin sobre religião e legitimidade política. Thráinn Eggertsson, por sua vez, propõe uma caminhada pelas incertezas das políticas institucionais. No campo dos direitos de propriedade, Henry E. Smith explora as arquiteturas complexas que sustentam a governança de recursos, enquanto Claude Menard detalha a intricada teia das micro-instituições.

 

O Handbook ainda dedica espaço para temas atuais, como as políticas industriais, analisadas por Renan Sousa e Bernardo Mueller, e os desafios de governança de florestas complexas discutidos por Komal Preet Kaur e Varnitha Kurli. Essas incursões aplicadas demonstram como a teoria da complexidade transcende a abstração e se converte em ferramenta para o entendimento de processos concretos que moldam economias e sociedades.

 

No conjunto, o Handbook on Institutions and Complexity emerge como uma referência para estudiosos das ciências sociais e para formuladores de políticas interessados em navegar nas águas turbulentas de sistemas adaptativos. A participação do professor José Maria da Silveira e de seus colaboradores brasileiros confere ao livro um sotaque plural, reforçando a relevância das perspectivas do Sul Global no debate sobre as instituições. Trata-se de um convite à leitura atenta e à reflexão crítica sobre como instituições, longe de serem peças fixas em um tabuleiro previsível, são antes organismos vivos, moldados por dinâmicas complexas e contingentes. Em um mundo marcado por incertezas e desafios globais, essa visão se mostra não apenas pertinente, mas essencial.

 

Mais informações: https://doi.org/10.4337/9781035309726