MÍDIA

Simone Deos, Renata Lins, Kaio Pimentel, Fabiano Dalto e Daniel Negreiros Conceição | No Le Monde Diplomatique

Em razão do confinamento de grande parte da população, o consumo agregado caiu drasticamente, aqui e no resto do mundo: nos Estados Unidos, por exemplo, os pedidos de seguro-desemprego já ultrapassam os 22 milhões. Com exceção de itens essenciais, quase nada é consumido pelas famílias. As empresas, já afetadas pela impossibilidade de contar com seus trabalhadores e pela desorganização das cadeias produtivas, passaram a sofrer também com a queda brutal de suas receitas. Caso demitam funcionários, o ciclo se retroalimentará, pois as famílias afetadas cortarão gastos, o que afetará novamente empresas, numa verdadeira “bola de neve”.

A solução óbvia para reverter o ciclo recessivo é expandir o gasto líquido do governo. E será preciso ir muito além de medidas anunciadas pelo governo, como a antecipação de rendas de aposentados e a oferta de crédito mais barato às pessoas físicas e jurídicas. Essas medidas não têm efeitos permanentes: no caso da antecipação de benefícios, o estímulo de hoje será desfeito amanhã, quando os valores antecipados deixarem de ser recebidos; já no caso do crédito barato, o estímulo será desfeito quando as amortizações e os juros devidos começarem a ser pagos. Mesmo o auxílio de R$ 600 prestado aos desempregados e aos trabalhadores informais, que é fundamental e urgente, será insuficiente, tanto do ponto de vista macroeconômico como para a sobrevivência digna dos próprios trabalhadores.

Com o país ameaçado pela depressão econômica, será preciso que o governo federal dê um forte apoio à renda e ao emprego, subsidiando as folhas de pagamento das empresas e transferindo um volume maior de recursos diretamente à população. Deverá também prover uma ajuda financeira generosa aos governadores e prefeitos para que combatam a pandemia e enfrentem a depressão em seus estados e municípios (isenção de impostos, postergação de pagamento de tarifas públicas, tudo deveria ser financiado pelo governo federal). Ao governo também caberá resguardar a produção de bens essenciais e garantir recursos financeiros e materiais para testes de diagnóstico em massa, produção de materiais de proteção aos trabalhadores das atividades essenciais, pesquisas sobre o vírus, construção de hospitais para isolamento de doentes e tudo mais que especialistas considerarem fundamental para proteger a população. Para evitar o desabastecimento de itens essenciais, o governo provavelmente terá de apoiar a reconversão de parte da estrutura produtiva, racionar o consumo, ou importar bens e serviços.

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