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Tese analisa as estratégias de política pública e inovação em energias renováveis nos dois países, com destaque para a ascensão chinesa no campo das patentes verdes.

 

TESE

 

Por Davi Carvalho

 

A tese de doutorado “Harder, better, faster, greener: a China e os Estados Unidos na corrida pelas tecnologias energéticas verdes”, de Lucas Corrêa, defendida no Instituto de Economia da Unicamp, analisa comparativamente as estratégias de política pública e os resultados inovativos das duas maiores economias do mundo no campo das tecnologias de baixo carbono. O trabalho foi orientado por Antonio Carlos Diegues e coorientado por Renato de Castro Garcia.

Partindo do referencial evolucionário, o estudo identifica duas frentes complementares. Primeiro, reconstitui, por estudo de caso, as trajetórias de política de inovação verde nos Estados Unidos e na China. Depois, mensura, por meio de dados de patentes, a dinâmica de liderança tecnológica em cinco áreas-chave: energia solar fotovoltaica, eólica, baterias, eletromobilidade e smart grid.

 

Políticas públicas em contraste

 

Os resultados mostram que os países adotaram abordagens distintas. Enquanto nos Estados Unidos o papel do governo se manteve relativamente limitado, na China o planejamento estatal ocupou posição central, com reflexos nos objetivos perseguidos, no desenho dos instrumentos e na estabilidade das iniciativas ao longo do tempo. Esse contraste é ilustrado, por exemplo, pelo pacote de 2009 que impulsionou o mercado doméstico chinês de solar fotovoltaica por meio de subsídios a telhados e projetos de grande escala, além de concessões competitivas.

Segundo Lucas Corrêa, os dados setoriais reforçam esse contraste: “Na China, em termos de quantidade, os elos mais fortes da dinâmica tecnológica associada com a transição energética renovável em âmbito internacional foram em energia solar fotovoltaica, bateria e eletromobilidade. Especialmente solar fotovoltaica, em que a China teve a maior participação no total de patentes geradas do mundo no final do período. Por outro lado, em energia eólica e smart grids, o crescimento não foi tão acelerado. Já em termos de qualidade, solar fotovoltaica e baterias se destacam. Entretanto, é seguro dizer que a ascensão da China, especialmente por conta da velocidade com que ocorreu, é notável em todas as tecnologias analisadas. Nos EUA, apesar de, enquanto país desenvolvido, ter saído na frente, verificou-se uma perda de espaço, tanto em quantidade quanto em qualidade, em todas as tecnologias.”

O pesquisador também destacou o papel das políticas públicas no processo: “A China foi capaz de planejar e coordenar, nacionalmente, um processo rápido de desenvolvimento tecnológico para a transição energética. Nesse sentido, apesar de imperfeito, pode ser visto como uma força no caso chinês. Ao passo que a política pública foi um ponto fraco identificado no caso dos EUA, justamente por não ter conseguido construir um arcabouço de política abrangente, estável e, em última instância, suficiente para fazer frente à ascensão chinesa. (...) O arcabouço complexo e agressivo de políticas, fomentando o desenvolvimento tecnológico e apoiando a construção de um mercado nacional para a transição energética, foi capaz de construir um verdadeiro laboratório de experimentação e aprendizado nessas tecnologias, certamente importante para os resultados, em termos de desempenho, verificados.”

 

Patentes e mudança de liderança

 

Na avaliação quantitativa e qualitativa da inovação, a pesquisa utiliza indicadores de patentes para o período 2001–2020, adequados para monitorar desempenho tecnológico e mudanças na liderança ao longo do tempo. A partir desse recorte, o estudo observa a expansão contínua da participação chinesa na geração de patentes verdes e o crescimento de sua relevância tecnológica, medido por citações, desafiando a percepção de que a produção chinesa seria, em geral, de baixa qualidade. [Inserir aspas do orientador aqui]

A análise também verifica a crescente penetração de pedidos chineses no mercado estadunidense. No fim do período, quase 30% das patentes registradas nos EUA em solar fotovoltaica eram de origem chinesa; em baterias, 17%; em eletromobilidade, 15%; e em smart grid, 13%. Paralelamente, os índices de citações das patentes chinesas superam os dos EUA em vários campos na década de 2010, sobretudo quando as políticas industriais chinesas se intensificam. [Inserir aspas do coorientador aqui]

Tomadas em conjunto, as evidências sugerem um processo recente, ainda em curso, de mudança da China de uma posição de seguidora para uma posição de liderança em tecnologias energéticas verdes. Segundo o trabalho, as diferenças de política pública ajudam a explicar essa trajetória: o arranjo chinês, mais coordenado, entregou resultados consistentes; o estadunidense, menos estável, apresentou insuficiências para sustentar ganhos ao longo do tempo.

 

A tese está disponível aqui: https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2024.1456604