Imprimir

Por Davi Carvalho

 

A nova edição da revista Economia e Sociedade (v. 34, nº 2, 2025), do Instituto de Economia da Unicamp, reúne uma seleção de dez artigos que oferecem uma leitura sobre questões centrais das ciências econômicas e sociais contemporâneas. O número destaca-se pela pluralidade temática e pela rigorosa análise acadêmica, abarcando desde desafios sociais urgentes até debates teóricos complexos sobre o capitalismo atual.

Um dos estudos iniciais aborda a pobreza multidimensional na primeira infância rural brasileira. Os autores Ohanna Larissa Fraga Pereira, Caroline Lucion Puchale e Orlando Martinelli Júnior utilizam uma metodologia baseada na lógica fuzzy para avaliar indicadores como segurança alimentar, moradia e saneamento básico. Destacam-se resultados críticos no Amazonas e no Maranhão, em contraste com melhores índices em Santa Catarina, revelando profundas desigualdades regionais e sugerindo desafios específicos às políticas públicas voltadas à infância rural.

Marcelo Soares Bandeira de Mello Filho revisita a obra de Gustav Schmoller, pensador central da Escola Histórica Alemã. O autor apresenta Schmoller não apenas pela famosa “batalha dos métodos”, mas também analisa seu posicionamento ético diante de questões nacionais e sociais. Schmoller é retratado como uma figura cujas contribuições ainda são relevantes para entender disputas teóricas contemporâneas entre visões econômicas ortodoxas e heterodoxas.

Outro artigo, assinado por Thiago Araujo do Pinho e Sergio Ordóñez Gutiérrez, foca a crise do capitalismo pós-2007-2009. Com uma análise crítica e bem fundamentada, sustentam que a crise atual é fruto da financeirização, mas sobretudo da própria lógica neoliberal que guiou as políticas econômicas das últimas décadas. O estudo propõe reflexões relevantes sobre as limitações estruturais desse modelo e suas implicações futuras.

Ainda na esfera das políticas econômicas, Erasmo José Gomes e Márcio Bobik Braga analisam o papel anticíclico das agências brasileiras de fomento entre 2013 e 2020. Com dados empíricos robustos, destacam como essas instituições atuam para suavizar ciclos econômicos, ampliando o acesso ao crédito sobretudo em períodos recessivos, evidenciando sua importância estratégica no financiamento público e no desenvolvimento regional.

Na mesma linha de políticas monetárias, Flávia Félix Barbosa e Fábio Terra investigam as operações compromissadas do Banco Central brasileiro de 2002 a 2020, revelando como os juros pagos nessas operações foram decisivos para o aumento expressivo do estoque ao longo dos anos. A análise indica como práticas monetárias específicas têm efeitos significativos na gestão macroeconômica do país.

Bruno Rodrigues Pereira e Carlos Pinkusfeld Bastos trazem uma discussão sobre a Teoria Monetária Moderna (MMT) e o papel da tributação. Usando o modelo Supermultiplicador Sraffiano, defendem a ideia de que impostos não servem apenas para financiar gastos públicos, mas sobretudo para garantir estabilidade macroeconômica e financeira, oferecendo argumentos inovadores ao debate sobre políticas fiscais contemporâneas.

Eduardo Barros Mariutti mergulha nas origens cognitivas da economia em seu artigo sobre Friedrich Hayek. Ao articular psicologia teórica, ciência econômica e estudos sobre sistemas complexos, o autor defende a ideia de Hayek como precursor de abordagens conexionistas, fornecendo uma perspectiva interessante para compreender o diálogo entre economia e ciências cognitivas, especialmente diante do avanço das tecnologias de Inteligência Artificial.

Já Marcelo Milan e Bruno Gastal Palombini abordam as transformações econômicas do México entre as crises de 1982 e 1994. Eles exploram como a crise da dívida externa e o "efeito Tequila" moldaram a adoção acelerada de políticas neoliberais e a crescente financeirização da economia mexicana, refletindo dinâmicas semelhantes enfrentadas por outros países da América Latina e suas consequências socioeconômicas.

Por fim, Marina da Silva Sanches realiza uma revisão teórica sobre o papel da desigualdade na Teoria do Desenvolvimento Econômico, abordando autores clássicos como Lewis, Nurkse, Rosenstein-Rodan, Hirschman e Celso Furtado. O estudo evidencia como diferentes correntes interpretaram a relação entre desigualdade, distribuição de renda e crescimento econômico, e como essas perspectivas continuam relevantes na formulação de estratégias para países em desenvolvimento.

 

Leia os artigos no Scielo: https://www.scielo.br/j/ecos/i/2025.v34n2/