Premiação internacional reconhece tese sobre o sistema financeiro chinês e dissertação sobre desigualdade de renda nos Estados Unidos, ambas produzidas no Instituto de Economia.
Por Davi Carvalho
O Prêmio AKB-AFEE Fernando José Cardim de Carvalho, promovido pela Associação Keynesiana Brasileira (AKB) em parceria com a Association for Evolutionary Economics (AFEE), destacou em 2025 duas pesquisas desenvolvidas no Instituto de Economia da Unicamp. A premiação reconhece anualmente teses e dissertações que contribuem para a reflexão crítica sobre crescimento, finanças e desigualdade.
Na categoria doutorado, o primeiro lugar foi concedido a Marília Ceci Cubero, autora da tese Financiamento na China: um estudo do sistema bancário e do mercado de capitais, orientada pela professora Ana Rosa Ribeiro de Mendonça e coorientada por Rosângela Ballini. A pesquisa examina como a China, em poucas décadas, construiu um sistema financeiro capaz de sustentar altas taxas de crescimento e de financiar a expansão de setores estratégicos.
O trabalho mostra que, mesmo com a abertura ao capital internacional e a consolidação de mercados acionários e de títulos, a intermediação financeira chinesa segue organizada em torno de bancos estatais, responsáveis pela maior parte do crédito e subordinados às diretrizes do governo central. Esse arranjo combina mecanismos de mercado e instrumentos de planejamento, permitindo ao Estado calibrar fluxos de financiamento conforme objetivos de política industrial e tecnológica.
Ao analisar esse processo, a tese identifica tensões internas: a busca por estabilidade diante da rápida diversificação dos mercados de capitais, a convivência entre inovação financeira e regulação rígida, e o equilíbrio permanente entre centralização e descentralização. O estudo conclui que o modelo chinês não se enquadra nas tipologias tradicionais de sistemas financeiros. Em vez de adotar uma lógica puramente liberal, o país estruturou um caminho próprio, no qual bancos estatais, investidores privados e mercados regulados se articulam para sustentar o desenvolvimento.
Na categoria mestrado, a menção honrosa foi concedida a Gabriel Vinicius Chimanski dos Santos, pela dissertação Personal income distribution and demand regimes: a study with reference to the USA (1967–2010), orientada pela professora Carolina Troncoso Baltar e coorientada por Rosângela Ballini. O trabalho analisa como a distribuição de renda nos Estados Unidos alterou os regimes de crescimento entre as décadas de 1960 e 2010, período marcado por mudanças estruturais, crises e transformações no mercado de trabalho.
Ancorado na tradição kaleckiana, o estudo diferencia economias lideradas pelos salários (wage-led) e economias lideradas pelos lucros (profit-led). A partir de um modelo econométrico do tipo Vetorial Autorregressivo com Limiares (TVAR), Santos investigou como a participação relativa da renda entre diferentes grupos sociais impacta a demanda agregada e o ritmo de crescimento. Os resultados são claros: quando a renda se concentra no topo, a demanda perde fôlego; quando os mais pobres ampliam sua participação, o crescimento se torna mais robusto.
A dissertação reforça a atualidade do paradoxo da parcimônia, formulado por Keynes, segundo o qual a elevação da poupança em contextos de concentração não resulta em mais investimento produtivo, mas em retração da atividade. O trabalho também propõe um modelo teórico que expande a análise kaleckiana ao incorporar a distribuição pessoal da renda, oferecendo subsídios para políticas públicas de redução da desigualdade.
Criado em 2009, o Prêmio AKB-AFEE estimula abordagens críticas e inovadoras capazes de articular teoria, história e análise empírica.