ARTIGO
Os professores Simone Deos e Alex W. A. Palludeto, pesquisadores do Centro de Estudos de Relações Econômicas Internacionais (Ceri), publicaram recentemente o artigo “O Crepúsculo da Hegemonia Monetária Norte-Americana” no Jornal dos Economistas, edição de junho de 2025, do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ). O texto traz uma análise sobre os desafios enfrentados pelo dólar como moeda central do sistema monetário global.
No artigo, os autores exploram as tensões crescentes que colocam em xeque a posição dominante do dólar, especialmente diante das mudanças estruturais na economia mundial nas últimas décadas. Desde o fim do padrão-ouro em 1971, quando o então presidente Richard Nixon anunciou a suspensão da conversibilidade do dólar em ouro, a moeda norte-americana consolidou-se como referência fiduciária plena no sistema monetário internacional. No entanto, as dinâmicas globais emergentes, como a ascensão da China e o impacto da crise financeira de 2008, têm gerado um ambiente de instabilidade e questionamento dessa hegemonia.
Os professores destacam que o privilégio exorbitante dos Estados Unidos — expressão cunhada por Valéry Giscard d’Estaing — está sob intensa pressão. Países que não emitem moedas de reserva enfrentam restrições externas para honrar obrigações internacionais, enquanto os EUA desfrutam de maior autonomia financeira. Contudo, esse privilégio tem sido contestado, particularmente pela internacionalização do renminbi e pelas iniciativas chinesas para reduzir a dependência do dólar, como a ampliação da Belt and Road Initiative e a promoção de acordos comerciais em moedas locais.
A pandemia de Covid-19 reforçou paradoxalmente tanto a centralidade quanto os riscos associados ao dólar. Enquanto a corrida por liquidez em dólares evidenciava sua condição de ativo-refúgio, a China intensificava esforços para construir uma arquitetura financeira alternativa. Esses movimentos ganham ainda mais relevância no contexto do segundo governo Trump, marcado pelo uso geopolítico do dólar, como sanções financeiras e restrições ao acesso ao sistema bancário internacional.
Embora indicadores recentes ainda revelem o predomínio do dólar, há sinais claros de erosão estrutural. Moedas como o euro, o iene e o renminbi têm aumentado sua participação em reservas e transações globais. Além disso, economias emergentes buscam diversificar suas reservas e regionalizar fluxos financeiros, reduzindo a dependência de uma única moeda.
Deos e Palludeto também discutem o dilema de Triffin, que explica as contradições inerentes ao papel de uma moeda nacional como referência global. Déficits persistentes em transações correntes nos EUA garantem liquidez mundial, mas corroem a confiança na sustentabilidade do dólar como moeda-chave. Nesse cenário, a competição monetária entre o dólar e outras moedas reflete não apenas disputas econômicas, mas também rivalidades estratégicas em escala global.
Leia o artigo completo: https://www.corecon-rj.org.br/anexos/3F332A07858D28C84038B91D4DC74C10.pdf