MÍDIA

Daniel Negreiros Conceição, Renata Lins, Simone Deos, Kaio Pimentel e Fabiano Dalto | Na Carta Capital 

De acordo com o famoso economista Paul Samuelson, numa ocasião em que John Maynard Keynes foi criticado por mudar de ideia, sua resposta foi a seguinte: “Quando muda a minha informação, eu mudo de ideia. E você, o que faz?”. A frase pode ser impactante, mas nenhuma resposta diferente dessa se poderia esperar de qualquer cientista honestamente comprometido em desvendar como funcionam processos do mundo real. Na ciência as hipóteses são provisórias, devendo ser descartadas sempre que se mostram logicamente insustentáveis e/ou empiricamente irrealistas. Assim, abandonar uma ideia quando essa é refutada por novos fatos não é uma virtude do cientista honesto, mas sua obrigação.

Para um economista como o ministro Paulo Guedes, que se formou em Chicago no período de auge da influência dos monetaristas, aceitar a necessidade de políticas keynesianas de expansão do gasto público, em meio à pandemia do coronavírus, deve ser bastante desconfortável. Mas diante dos fatos novos que se acumulam em curso acelerado, tornou-se impossível interpretar o colapso econômico como sendo fruto, apenas, de um choque de oferta. Se é certo que a cadeia de produção é brutalmente desestruturada pela incapacidade de que o trabalho seja normalmente realizado pelas pessoas em uma situação de pandemia – dado que não é possível, e nem desejável, a sua movimentação – esse efeito está sendo amplificado pela queda de demanda. Vejamos como isso se dá.

Quando ficamos em casa, reduzimos enormemente o nosso consumo – não saímos mais com a mesma frequência para comprar em lojas, não frequentamos mais bares e restaurantes, não viajamos mais de ônibus, táxi, metrô ou avião, não consumimos serviços turísticos etc. As empresas, muitas delas já abaladas pela desorganização dos elos da cadeia produtiva, sofrerão ainda mais com a redução de demanda. Se demitirem seus funcionários e colaboradores em função disso, o ciclo vai se autoalimentando, pois estes não poderão nem realizar os poucos gastos que vinham efetuando, o que vai afetar, num novo ciclo, mais famílias e empresas. Cria-se, então, uma “bola de neve contracionista”, onde cada empresa em dificuldades, que reduz os seus gastos, afetará as vendas de outras empresas e assim sucessivamente. Diante disso, a única alternativa é expandir enormemente o gasto líquido do governo brasileiro (i.e. aumentar o gasto, mesmo na ausência de incrementos na arrecadação de impostos), de modo a compensar a queda de demanda privada. Se isso não for feito, viveremos a mais devastadora depressão econômica da nossa história.

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