Julia Braun | BBC News Brasil

 

No último final de semana, Brasil e China completaram a primeira operação comercial realizada apenas com as moedas locais dos dois países — yuan e real.

A transação envolvendo uma empresa de celulose brasileira foi concretizada após a assinatura de um memorando de entendimento entre Brasília e Pequim durante a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao gigante asiático em abril deste ano.

O presidente brasileiro vem pedindo que o Sul Global seja menos dependente do dólar.

Do yuan chinês à bitcoin, as discussões sobre alternativas à moeda tem se estendido por mais de um ano.

O dólar também é a moeda mais usada nas reservas globais e nas transações no sistema Swift. Os bancos centrais de diversos países ainda mantêm suas reservas internacionais em dólar.

Além disso, a moeda domina no comércio internacional de commodities, especialmente no mercado de petróleo, em que o valor do barril é sempre precificado em dólares.

Ou seja, países, empresas, bancos ou indivíduos sancionados pelos EUA podem ser totalmente excluídos do sistema monetário financeiro internacional e do sistema de pagamentos global, a depender do nível das sanções.

Para Pedro Paulo Bastos, professor do Instituto de Economia da Unicamp, foi isso o que aconteceu com a Rússia. "Já havíamos visto algo semelhante acontecer com o Irã, mas nunca com um país do tamanho da Rússia, gigante tanto do ponto de vista geopolítico quanto econômico, especialmente importante para o provimento de petróleo, gás e cereais", diz.

A consolidação do dólar como moeda internacional tem origem no período posterior à 2ª Guerra Mundial, quando os EUA, em conjunto com a Inglaterra, criaram o padrão ouro-dólar e, ao mesmo tempo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

A decisão foi tomada pelos chamados acordos de Bretton Woods, que definiram que cada país seria obrigado a manter a taxa de câmbio de sua moeda "congelada" ao dólar, com margem de manobra de cerca de 1%. A moeda norte-americana, por sua vez, estaria ligada ao valor do ouro em uma base fixa.

Em 1971, os EUA aboliram unilateralmente os acordos e abandonaram o padrão ouro, de forma que o dólar tornou-se uma moeda fiduciária.

"Ou seja, você determina que a moeda seja emitida e o único limite para seu uso é a confiança no valor dela. Não precisa mais ter um lastro metálico ou baseado em uma mercadoria específica", explica Bastos.

 

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