Nota 17 do Cecon

Pedro Paulo Zahluth Bastos, Gabriel Petrini e Lorena Salces Dourado

Resumo

• O PIB do Brasil em 2020 reforça o consenso científico que beira a unanimidade: é a pandemia que deprime a economia, e não as iniciativas de saúde pública capazes de controlá-la. A contração da economia e da mobilidade voluntária precederam ações de distanciamento social estritas, que chegaram atrasadas para controlar os vários picos da pandemia e, assim, criar condições para recuperação econômica sustentada.

• A bibliografia internacional sobre o impacto econômico da pandemia indica que ações de distanciamento social moderadas têm grande impacto econômico negativo que reforça o efeito do distanciamento voluntário, mas não são eficientes para reduzir a taxa de crescimento das infecções. Já ações de distanciamento social estritas conseguem sim reduzir as infecções, mas tem impacto econômico negativo pequeno na margem, pois a maior parte do impacto já tinha sido produzido pelo distanciamento voluntário e pela ação de distanciamento social moderada.

• A conclusão é óbvia: ao invés de ficar parado torcendo para que a economia não despenque – pois ela vai despencar mesmo sem lockdowns rigorosos -, é melhor decretar lockdown rigoroso o mais cedo possível, acompanhando-o de ações para evitar novos surtos (testagem, rastreio de contatos e isolamento seletivo). Assim, a redução brusca das infecções pode criar condições epidemiológicas para uma recuperação econômica sustentada, pois enquanto houver risco de infecção haverá distanciamento voluntário. A médio prazo, portanto, não há conflito entre atividade econômica e controle da pandemia.

• A economia brasileira confirma o padrão internacional. Estimamos o distanciamento social voluntário avaliando dados de mobilidade nos estados brasileiros e comparando-os com alterações nas ações de distanciamento social. Em muitos estados há sincronia quase perfeita entre curvas de mobilidade e de número de casos independentemente de mudanças significativas em ações de distanciamento, o que se explica pelo distanciamento voluntário.

• Em razão do distanciamento voluntário, a recuperação econômica iniciada no terceiro trimestre desacelerou no quarto antes mesmo da interrupção do auxílio emergencial. A pandemia, tornando-se endemia, limitou a retomada da demanda e do emprego em serviços no último trimestre em razão dos riscos de transmissão, a despeito do relaxamento das ações de distanciamento social. Logo, tanto o distanciamento social quanto as políticas de defesa da renda foram mitigadas ou suspendidas cedo demais, e não foram acompanhadas nem sucedidas por ações para evitar novos surtos (testagem, rastreio de contatos e isolamento seletivo) por falta de coordenação nacional.

• Como esperado, o recrudescimento da pandemia em 2021 foi novamente acompanhado da piora dos dados de mobilidade e dos indicadores econômicos. O indicador da OCDE para a semana concluída em 03 de abril de 2021 aponta para uma contração de 7,5%, uma deterioração de 6 p.p. em menos de dois meses que leva o índice ao patamar do final de julho de 2020, quando ocorria o primeiro pico da pandemia em São Paulo e no Rio de Janeiro.

• A gravidade da conjuntura aumenta a urgência da combinação de políticas de saúde pública com nova rodada de estímulos fiscais. Tal rodada deveria ser muito superior à retomada do auxílio emergencial em 06 de abril, que estimamos representar um choque negativo de 3% do PIB em relação aos valores de 2020.

• Sem controle da pandemia, a economia brasileira deve participar timidamente, na melhor das hipóteses, da recuperação do PIB dos grandes parceiros comerciais que ampliam a vacinação e controlam a pandemia em 2021. A pior das hipóteses, contudo, é cada vez mais provável.

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