Ricardo Carneiro e William Nozaki | Le Monde Diplomatique Brasil

Para discutir os obstáculos e limites ao crescimento com inclusão social numa economia periférica e globalizada deve-se partir das seguintes questões essenciais: é possível estabelecer nesse tipo de economia um padrão de política econômica produtivista, que almeje um catch-up com economias desenvolvidas e, distributivista, melhorando a distribuição de renda e riqueza e o perfil do emprego, ambos viabilizados por uma ampliação da intervenção do Estado? Até que ponto, os percalços encontrados por governos populares no Brasil responderam a equívocos de operação, ou a limites estruturais expressos em determinados interesses de classe e coalizões políticas? Para tentar responder essas questões, este texto trata de duas dimensões distintas dessas perguntas: a primeira, relacionada à economia política da política econômica, ou seja, a sua clivagem de classes e interesses, e a segunda, atinente ao quadro político, ou seja, a correlação de forças institucional e partidária no presidencialismo de coalizão.

A aliança de classes

Da perspectiva da economia política, a questão mais geral se refere às relações de classes, ou seja, se é possível, nas condições brasileiras, atrair para um projeto de desenvolvimento do tipo social-democrata, ou melhor social-desenvolvimentista, parcelas das elites ou classes dominantes do país. Esse não é um tema novo na história contemporânea do Brasil. Ao longo das últimas décadas, o apelo a coalizões interclassistas assumiram várias formas; da aliança com a burguesia nacional, à associação com os capitalistas do setor produtivo e/ou industrial para se contrapor aos desígnios hegemônicos do capital internacional e, mais recentemente, do capital financeiro.

Após os percalços do experimento desenvolvimentista, nos governos do PT, cujo objetivo era exatamente atrair fração desses segmentos empresariais, é imperativo indagar até que ponto esses interesses são de fato incorporáveis num padrão alternativo e não estariam contemplados em padrões de acumulação mais patrimoniais e especulativos. Em outras palavras, cabe perguntar se a dimensão nacional e/ou produtiva da acumulação ainda é relevante no atual estágio do capitalismo brasileiro? E, se, na ausência de atores empresariais progressistas em setores econômicos relevantes, o Estado, enfraquecido pelo desmonte do arranjo econômico-institucional que viabilizou o Estado desenvolvimentista e o Estado social é ainda capaz de fazer face aos novos desafios?

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Foto: Marcos Corrêa/PR