HOMENAGEM

 

Cito Conceição Tavares: “Uma economia que diz que precisa primeiro estabilizar, depois crescer, depois distribuir, é uma falácia. E tem sido uma falácia. Nem estabiliza, cresce aos solavancos e não distribui. E esta é a história da economia brasileira desde o pós-guerra (...). Se você não se preocupa com a justiça social, com quem paga conta, você não é um economista sério. Você é um tecnocrata”. [Declaração durante entrevista ao Programa “Roda Viva” da TV Cultura/SP, em 1995].

Compreendo que tal afirmação é uma das possíveis sínteses do que pensava e pelo que atuava, politicamente, a Professora com quem tive o privilégio de conviver como aluno e amigo desde o ano de 1971 quando ingressei no Programa de Mestrado da ESCOLATINA na Universidade do Chile.

Na Economia da UNICAMP, onde trabalhei como professor desde 1974, pude ampliar a compreensão do conhecimento teórico, histórico e político-econômico que ela revelou e ensinava em suas múltiplas contribuições em aulas, conferências, textos e seminários. Com ela aprendia-se a pensar a estrutura e dinâmica do capitalismo internacional e as particularidades problemáticas enfrentadas pelas economias periféricas, em particular as da América Latina.

As suas contribuições ao pensamento teórico e histórico do desenvolvimento capitalista, a partir de autores cruciais como K.Marx, M.Kalecki e J.M.Keynes, atingiram níveis de genialidade ao perscrutá-los e aprofundar suas análises com as “correções” necessárias impostas pela evolução lógico-histórica.

Ela permanecerá vívida porque sua obra e sua práxis nos ensinaram a pensar o desenvolvimento lógico-histórico do capitalismo, uma forma historicamente determinada e contraditória de produção e distribuição, forma esta submetida à inexorável tensão entre expansão e crise.

Uma contribuição essencial de Conceição Tavares é pensar criticamente a economia política, no capitalismo, com o propósito de enfrentar os obstáculos à constituição de economias e sociedades em que a distribuição dos frutos do progresso técnico-econômico seja equânime e resulte em avanços substanciais, em sentido amplo, na civilização mundial.

As conhecidas veemência e intensidade, presentes nos debates com seus interlocutores, eram, como ela mesma explicitava, devidas à necessidade de colocar as ideias para brigar e não por hostilidades com os outros, e assim, insistia, o conhecimento poderia avançar. Sua generosidade e disposição em contribuir para a elaboração de teses, artigos e pesquisas evidenciam sua consciência e dedicação à dimensão do caráter coletivo na produção de conhecimento.

José Carlos Braga